"A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe."
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Modelo Curricular High/Scope para bebés e crianças pequenas
Modelo Curricular High/Scope para bebés e crianças
pequenas
O modelo curricular High/Scope nasceu nos Estados Unidos da América, em
1960, de um projecto denominado “Ypsilanti Perry Preschol” sendo David Weikart o
seu impulsionador. Inicialmente, o modelo destinava-se a “crianças com deficiências
ligeiras ou de meios economicamente desfavorecidos” (Hohmann, Banet e Weikart,
1992:6) e tinha o propósito de diminuir o insucesso escolar. Durante a década de 70, o
modelo curricular High/Scope publicou livros como “Aprendizagem activa”, “Educar a
criança”e “A Criança em Acção”, entre outros, que contribuíram para a divulgação e
implementação do modelo em vários países, entre os quais Portugal, como é referido
nos estudos realizados pela Associação Criança: “em todas as unidades e salas que
visitei, a organização do espaço físico e da rotina, as atividades propostas, as
concepções de criança e de educação, embora com diferenças, mostram a adoção de
experiências reconstruídas a partir de tendências curriculares High-Scope
(…)”(Formosinho-Oliveira e Kishimoto, 2002:30).16
No entanto, tendo em conta o âmbito do projecto e considerando que “A
High/Scope tem uma longa história no desenvolvimento curricular, treino e
investigação na área do desenvolvimento de bebés e crianças em tenra idade (…)”
(Post e Hohmann, 2004:26), o currículo aqui apresentado refere-se apenas a crianças
entre os 0 e os 3 anos de idade.
O modelo curricular High/Scope para bebés e crianças jovens baseia-se na
construção activa da realidade através de uma metodologia de aprendizagem pela
descoberta, de resolução de problemas e de investigação, permitindo que a criança,
mesmo de tenra idade, construa as suas aprendizagens, estruture e dê significado às suas
experiências, promovendo, desta forma, a sua confiança e o seu desenvolvimento. Deste
modo,
“à medida que os bebés e crianças mais jovens interagem com as pessoas e agem sobre
materiais, constroem uma bagagem de conhecimentos básicos sobre o modo como as
pessoas e as coisas são, o que fazem e como respondem a determinadas acções (...)
aprender através da acção envolve encontrar e resolver problemas (...)” (Idem,
ibidem:26).
De acordo com Post e Hohmann (2004) desde o nascimento que os bebés
aprendem activamente pois “(...)recolhem informação a apartir de todas as suas
acções.(...) Jean Piaget utilizou o termo sensório-motor para caracterizar esta
abordagem directa e física da aprendizagem.” (Idem, ibidem:26). Assim, o modelo
curricular High/Scope “encontra em Piaget e no paradigma desenvolvimentista a sua
referência teórica.” (Craveiro e Formosinho, 2002:16).
Mas, para que os bebés e crianças pequenas possam efectuar esta aprendizagem
é necessário, um ambiente emocionalmente rico. As interacções dos bebés com adultos
em quem confiam, (dentro e fora de casa) proporcionam o “combustível” emocional de
que os bebés e as crianças precisam para descobrir gradualmente e compreender a sua
individualidade quer física, quer social, dado que “sem a chama das relações de
confiança, a criança fica oprimida pelo medo, tristeza ou mágoa e torna-se cada vez
mais passiva e incapaz de pedir ajuda.” (Post e Hohmann, 2004:33). Deste modo, as
relações de confiança são a chave para que, num contexto social intenso, ocorram
situações de aprendizagem activa. Durante este processo de aprendizagem activa, os
bebés e crianças mais novas são incentivados a descobrir o mundo ao seu redor
explorando e jogando, pois “aprendem com todo o seu corpo e todos os seus sentidos”17
(Idem, ibidem:23) em situações como: ouvir, agitar, rebolar, gatinhar, escalar, baloiçar,
saltar, descansar, comer, fazer barulho, agarrar, roer, deixar cair coisas, sujar, etc.
Esta abordagem tem como base a “roda da aprendizagem” onde os cinco princípios
orientadores (observação da criança, interacção facilitadora adulto-criança, ambiente
físico, horários e rotinas, aprendizagem activa) guiam o trabalho de equipa dos
educadores, a relação educador/família e a planificação do programa.
Observação da criança - Permite ao educador ter um conhecimento
individualizado da criança e a possibilidade de reflectir, em conjunto com a equipa
para “(...) orientar o seu próprio comportamento de apoio às crianças(...)” (Idem,
ibidem:16) e com os pais “(...) de modo a que as crianças sejam apoiadas de forma
consistente em casa e no centro infantil.” (Idem, ibidem:16).
Interacção facilitadora adulto-criança – molda as “percepções que a criança tem
de si enquanto ser humano capaz, confiante e merecedor de confiança.” (Idem,
ibidem:14). Quando o adulto abraça, beija, brinca e fala com a criança numa relação
calorosa de dar-e-receber, promove um ambiente seguro capaz de encorajar a
criança na sua necessidade de exploração activa.
Ambiente físico – É um meio fundamental para a realização de aprendizagens, pelo
que, deve ser “ seguro, flexível e pensado para a criança.” (idem, ibidem:14). Este
ambiente deve responder às necessidades e interesses das crianças, oferecer conforto
e variedade de materiais.
Horários e Rotinas - Consiste em momentos como a chegada e partida, a hora das
refeições, o tempo dos cuidados corporais, de escolha livre, de grupo e de exterior.
Estes momentos pressupõem um planeamento flexível e cuidado por parte do
educador, de forma a responder às necessidades e interesses das crianças, pois “ são
suficientemente repetitivos para permitirem que as crianças explorem, treinem e
ganhem confiança nas suas competências em desenvolvimento.” (Post e Hohmann,
2004:15).
Aprendizagem activa - É o pilar conceptual deste modelo curricular e tem um lugar
central na “roda da aprendizagem”. Numa perspectiva que a aprendizagem por
experiência directa e activa é decisiva e douradora, pois “(...) as crianças
apreendem os conceitos por meio da actividade que é da sua própria
iniciativa.”(Hohmnn, Banet e Weikart, 1992:14). Este modelo curricular apresenta 18
um conjunto de linhas orientadoras, que denomina de experiências-chave, as quais
enquadram o conteúdo das primeiras aprendizagens e do desenvolvimento precoce.
As experiências-chave estão organizadas em 9 domínios abrangentes da
aprendizagem de bebés e crianças pequenas, sendo uma estrutura de apoio ao
desenvolvimento. Ainda que interligadas, este modelo apresenta estratégias de
sustentação para cada uma:
o Desenvolver o sentido de si próprio – as acções com objectos e interacções com os
adultos têm como suporte experiências-chave como: expressar iniciativa, distinguir
“eu dos outros, resolver problemas com que se depara ao explorar e brincar, fazer
coisas por si próprio, que permitem à criança “desenvolver um sentido do self.”
(Post e Hohmann:38).
o Aprender acerca das relações sociais – O envolvimento nas experiências-chave
(estabelecer vinculação com a educadora responsável, estabelecer relações com
outros adultos, criar relações com os pares, expressar emoções, mostrar empatia
pelos sentimentos e necessidades dos outros, desenvolver jogo social), permitem á
criança confiar nela própria e nos outros. Estas interacções sociais são importantes
na medida em que as “relações precoces influenciam o modo como no futuro irão
abordar as pessoas.” (Idem, ibidem:40).
o Aprender a reter coisas através da representação criativa – As experiências-chave
(imitar e brincar ao faz-de-conta, explorar materiais de construção ou de expressão
artística, responder a e identificar figuras e fotografias) permitem que a criança de
tenra idade aja sobre os objectos através dos sentidos e do seu corpo, construindo a
partir dessas experiências imagens mentais desses mesmos objectos. Assim, “o
inicio da internalização, ou visualização mental, de qualquer coisa constitui a
primeira experiência (...) com aquilo que se chama representação.” (Idem,
ibidem:42). Trata-se de aquisições importantes, pois a utilização de imagens mentais
e a imitação, ou seja, o “conhecimento figurativo” da criança de idade pré-escolar
“desenvolveu-se a partir de acções realizadas no período sensório-motor (do ano e
meio aos dois).” (Hohmann, Banet e Weikart, 1992:15).
o Ganhar competências no movimento e na música – As experiências-chave,
movimentar o corpo, partes dele ou objectos, proporcionam situações nas quais os
bebés e crianças pequenas “(...)aprendem a medir a sua força física e os seus limites 19
e exercitam padrões de movimentos(...).” (Post e Hohmnn, 2004:44). Escutar e
responder à musica, experimentar um ritmo regular e explorar sons, tons e começar
a cantar, são experiências com as quais a criança “(...) expande a consciência
sensorial do som e do ritmo.” (Idem, ibidem:44).
o Aprender competências de comunicação e linguagem – A linguagem do bebé iniciase muito antes de saber falar, “comunicam os seus sentimentos e desejos através (...)
de choro, movimentos, gestos e sons.” (Idem, ibidem:45). Quando o adulto reage
correctamente aos sinais ou gestos da criança, desenvolve a sua confiança,
encorajando-a no seu desejo de comunicar, pois “não são precisas palavras para
veicular e compreender segurança, aceitação, confirmação ou respeito.” (Idem,
ibidem:45). O bebé desenvolve mais rapidamente a compreensão da linguagem do que a
capacidade de a usar, “antes dos bebés emitirem algo mais do que um choro, são
capazes de distinguir entre sons da fala tão similares como “ba” e “pa”.” (Papalia,
2001:216). As experiências-chave: ouvir e responder, comunicar verbalmente e não
verbalmente, participar na comunicação dar-e-receber, explorar livros de imagens,
apreciar histórias, lengas-lengas ou cantigas, promovem oportunidades de
comunicação para os bebés e crianças pequenas que “os integra na comunidade
social e lhes permite participar nela como contribuintes.” (Post e Hohmnn,
2004:45).
o Aprender sobre o mundo físico explorando objectos – A criança jovem apreende as
características dos objectos explorando-os activamente, numa “intensa sede de
experiência sensorial” (Idem, ibidem:47) através das seguintes experiências-chave:
explorar objectos com as mãos, pés, mãos, boca, olhos, ouvidos e nariz, descobrir a
permanência do objecto, explorar e reparar como as coisas podem ser iguais ou
diferentes.
o Aprender os primeiros conceitos de quantidade e de número - Através das
experiências explorar o número de coisas, experimentar “mais” e a correspondência
de “um para um” os bebés e as crianças pequenas “ começam a estabelecer as bases
de compreensão da quantidade e do número” (Idem, ibidem:48). A percepção que
os objectos existem, que se podem encaixar ou adaptar um ao outro, mais tarde, “irá
conduzir à compreensão da classificação, seriação, (...) conservação do número”
(Hohmnn, Banet e Weikart, 1992:284).20
o Desenvolver a compreensão de espaço - “A consciência e o domínio do espaço
levam muito tempo a desenvolver-se” (Idem, ibidem:293). Assim, experiênciaschave como, explorar e reparar na localização dos objectos, observar pessoas e
coisas de várias perspectivas, encher e esvazia, pôr dentro e tirar para fora,
desmontar coisas e juntá-las de novo, permitem que a criança à medida que tem uma
maior mobilidade e actividade, comece “ a expandir o seu sentido de espaço”(Post e
Hohmann, 2004:49).
o Desenvolver a compreensão de tempo – “Para bebés e crianças, tempo significa
agora, (...) o presente” (Idem, ibidem:51). Assim, proporcionar ocasiões de
aquisição de noções básicas baseadas nas experiências-chave (antecipar
acontecimentos familiares, reparar no inicio e final de um intervalo de tempo,
experimentar depressa e devagar e repetir uma acção para fazer com que volte a
acontecer, experimentando causa e efeito) permite à criança construir, um sentido
temporal dos acontecimentos.
O Currículo Criativo para crianças dos 0 aos 3 anos de
idade
A origem da National Association for the Education of Young Children
(NAEYC) estende-se à década de 1920, quando investigadores profissionais e
educadores começaram a organizar infantários para crianças. Surge, então, a
necessidade de definir padrões e recursos capazes de melhorar o desenvolvimento
profissional, assim como, as condições de trabalho e ajudar as famílias a conhecer e
compreender a necessidade da educação de infância de alta qualidade, na perspectiva
que “Un programa de calidad empieza com los actores clave- los encargadosmaestros, los niños, las famílias, la comunidad (...)” (Dombro, Colker, Dodge,
2000:23). Mas, foi na década de 80 que a NAEYC se destacou, com o crescimento do
número de famílias na procura de cuidados não maternais para os seus filhos. Deste
modo, o posicionamento na educação de infância, o trabalho com outras organizações e
o seu sistema nacional de acreditação voluntária, torna a NAEYC líder na promoção da
excelência na educação de infância para todas as crianças, desde o nascimento até aos 821
anos de idade. Sendo o principal objectivo desta Associação a qualidade nos serviços
educacionais, concebeu um referencial curricular para crianças dos 0 aos 3 anos de
idade, porque “los tres primeros años de vida son críticos para el desarrollo infantil
(...)” (Dombro, Colker, Dodge, 2000:3). Neste currículo, o papel do educador de
infância é de suma importância, pois “estará contribuyendo a construir tanto un
cimiento, como un futuro para cada niño y cada família.” (Idem, ibidem:3). Para a
NAEYC, existem características específicas num programa de qualidade cujo objectivo
é a educação de infância e o cuidar, enunciando quais indicadores dessa mesma
qualidade:
- Basear-se nas teorias do desenvolvimento infantil “(...) El conocimiento del desarrollo
infantil nos indica aquello apropriado para el edad.” (Idem, ibidem:4);
- Ser individualizado, capaz de responder às necessidades de cada criança “(...) al
trabajar com niños y al hablar com sus famílias (...) su programa sea apropriado para
cada niño individualmente” (Idem, ibidem:4);
- Respeitar a cultura de cada família e motivar as famílias a participar “(...) para niños
decero a tres años es praticamente imposible servile a los niños sin servile también sus
famílias” (Idem, ibidem:4);
- O ambiente ser seguro, saudável e com uma variedade de jogos e materiais
estimulantes e familiares;
- As crianças poderem escolher os materiais e actividades de seu interesse numa
aprendizagem activa”(...)más oportunidades le ofreza a los niños de perseguir sus
propios intereses, más aprenderán de la experiencia(...)”(Idem, ibidem:5);
- Os adultos demonstrarem respeito pelas crianças e agirem carinhosamente “los
niños(...)tendrán muchas más posibilidades de florecer si cuetan com una persona(...)
quiene se sintonice com sus emociones” (Idem, ibidem:5);
- Os educadores terem formação especializada e um programa de intervenção adequado
“los programas de calidad se planifican, se ponen en prática y son evaluados
continuamente por profesionales idóneos.” (Idem, ibidem:6);
Defendendo que a existência de indicadores não é suficiente para permitir uma
planificação e colocar em prática um programa de qualidade para crianças dos 0 aos 3
anos de idade, define um currículo capaz de “reunir todas as partes de la prática
apropriada al nível de desarrollo infantil: el qué, el porqué y como hace usted lo que 22
hace.” (Dombro, Colker, Dodge, 2000:6). Assim, este currículo conduz o educador nos
processos de “planificar, aplicar y avaluar su programa.” (Idem, ibidem:6) permitindo,
simultaneamente, responder às características individuais quer da criança, quer da
família, “um currículo ayuda a individualizar el programa.” (Idem, ibidem:6) A
NAYEC define três componentes chave num currículo:
A. O conteúdo – Centrando a atenção na aprendizagem da criança através da definição
de metas e objectivos a atingir com a criança, mas também, “para los demás actores
clave en proceso de aprendizajem las famílias de los niños y usted.” (Idem,
ibidem:8).
B. Os processos – “Lo más importante de todo es que los procesos se enfocan la toma
de decisiones.” (Idem, ibidem:8), ou seja, inclui decisões como quais as estratégias
a adoptar ou quais os materiais a utilizar, etc.
C. O contexto – refere-se ao espaço onde se realizam as aprendizagens e o contexto são
as relações para as crianças de tenra idade. Deste modo, ao estabelecer laços
afectivos com a crianças e com a sua família, o educador “creará un clima en el que
flocerá aprendizaje.” (Idem, ibidem:8).
Assim, este currículo denominado de Currículo Criativo para crianças dos 0 aos 3
anos de idade tem como base o educador, encontrando-se nos pontos centrais do seu
trabalho as crianças e as famílias. Em redor encontra-se a comunidade, pois “ Los
valores y la cultura de su comunidad influyen constantemente en su programa.” (Idem,
ibidem:7). O Currículo Criativo sustenta a tomada de decisões baseadas no
conhecimento, nas observações e nas reflexões. As observações diárias de cada criança
realizadas pelo educador e a sua relação com a família permite-lhe realizar um
programa individualizado em resposta aos interesses e necessidades de cada criança e
cada família, pois “El programa se individualiza com base en lo que aprenda a partir
de sus observaciones e interacciones diárias com cada niño y sus familiares.” (Idem,
ibidem:8). Logo, é necessário que o educador “ mantega observaciones anecdóticas y
un registro continuado.” (Idem, ibidem:99). As observações realizadas devem ser
compiladas em “portafolios para planificar e individualizar, para documentar el
progresso de cada niño y para compartir la informácion com las familias.” (Idem,
ibidem:102). Deste modo, e sustentadas pelas observações diárias do educador são
estabelecidas metas e objectivos de trabalho quer com as crianças, (aprender acerca de 23
si mesmo, dos seus sentimentos, a comunicar, a mover-se e a fazer, a adquirir destreza
mental), quer com as famílias (obter cooperação da família; apoiar a família no seu
papel de pais; ajudar a família no seu papel de principais educadores, garantir que a
cultura da família se reflecte no programa). O Currículo Criativo, também, define metas
e objectivos a atingir pelo próprio educador (construir relações receptivas; planificar e
desenvolver um programa adequado ao nível de desenvolvimento infantil; proporcionar
a aprendizagem e o desenvolvimento infantil; continuar a aprender sobre as crianças, as
famílias e no campo da educação de infância; manter os standards profissionais
elevados; abonar para as crianças e para as famílias) tendo como principal objectivo a
auto-avaliação, ou seja, “indicar aquellas partes de su trabajo que realiza bien e
identificar las áreas en que debe esforzarse.” (Idem, ibidem:17).
Modelo de Avaliação de Qualidade – Manual dos
Processos-Chave Creche
“A educação de infância em Portugal tem vindo, gradualmente, a ser assumida
pelo Estado como uma etapa importante: a primeira etapa do processo de educação ao
longo da vida.” (Ministério da Educação, 2000:113). Deste modo, as crianças com
idade compreendida entre 0 e os 6 anos de idade podem ser atendidas em equipamentos
de iniciativa pública, cooperativa, IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade
Social) ou outras instituições sem fins lucrativos, e ainda de iniciativa privada. A
principal responsabilidade das crianças dos 0 aos 3 anos de idade recai sobre o
Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, o qual celebra protocolos de
cooperação com as instituições sem fins lucrativos, e sobre o sector privado. Em 2003, o
Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, em parceria com a Confederação
Nacional das Instituições de Solidariedade, União das Misericórdias Portuguesas e
União Mutualista Portuguesa, concebeu o “Programa de Cooperação para o
Desenvolvimento da Qualidade e Segurança das Respostas Sociais”. Este programa
tem como finalidade “(...) garantir aos cidadãos o acesso a serviços sociais de
qualidade (...)” (ISS, 2007:5), dado que, e como é referido no estudo da OCDE
(Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico) realizado em 1999, 24
“(...) na generalidade, falta qualidade aos serviços(...)” (Ministério da Educação,
2000:210). Neste âmbito, foram constituídos quatro modelos de Avaliação de Qualidade
das Respostas Sociais (Creche, Centro de Actividades de Tempos Livres, Centro de Dia
e serviço de Apoio ao Domicilio), baseados no Modelo de Excelência da European
Foundation for Quality Management. O Modelo de Avaliação é um referencial
normativo, no qual são determinados oito critérios de avaliação, sendo quatro relativos
aos meios (liderança, planeamento, e estratégia; gestão das pessoas; recursos e
parcerias; processos) e quatro relativos ao resultado (satisfação dos clientes; satisfação
das pessoas; impacte na sociedade; resultado de desempenho chave). Deste modo,
debruçar-nos-emos sobre um dos critérios de avaliação - os processos no Modelo de
Avaliação da Resposta Social de Creche -, ou seja, “como a organização concebe, gere
e melhora os seus processos de modo a gerar valor para os seus clientes.”(ISS, 2007:
9).
Dos sete processos identificados no Manual de Processos-Chave de Creche,
focalizaremos apenas dois: o Plano de Desenvolvimento Individual da criança e o
Projecto Pedagógico (planeamento e acompanhamento das actividades).
O Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) é elaborado pelo educador de infância,
tendo como base as expectativas da família e as competências, potencialidades e
necessidades da criança descritas na ficha de avaliação de diagnóstico de
desenvolvimento, preenchida com a família, da qual constam as seguintes áreas de
desenvolvimento:
Competências a nível Pessoal e Social (auto-conhecimento; auto-conceito;
interacção adulto/criança; interacção com os pares; auto-regulação; compreensão
da linguagem; expressão a linguagem; aceitação da diferença).
Competências a nível de aprendiz efectivo (interesse em aprender; competências
cognitivas; conceito de número, medida, ordem e tempo; interesse em livros e
outros materiais escritos; conceitos de matemática; competências de leitura e de
escrita).
Competências a nível físico e motor (capacidades motoras grossas; motricidade
global; capacidades motoras finas; hábitos saudáveis; comportamentos de
segurança).25
Deste modo, e de acordo com a informação recolhida, o educador estabelece quais
os serviços a prestar e os objectivos de intervenção com a criança. O PDI é avaliado
com a família, sempre que necessário, e revisto, ou seja, avaliado sempre que um dos
intervenientes do processo considere que os principais objectivos do PDI - “a
manutenção das competências já adquiridas.” e ”aquisição de competências que a
crianças ainda não adquiriu face à sua faixa etária.” (Idem, ibidem:6) - não estão a ser
alcançados. Nesta avaliação, são também considerados os resultados da implementação
do Projecto Pedagógico.
A elaboração do Projecto Pedagógico tem como base, o Projecto Educativo do
estabelecimento de ensino, o PDI; a ficha de avaliação de diagnóstico e os recursos
disponíveis (comunidade, parceiros...). A partir desses documentos o educador deve
preencher um impresso (IMP01.IT01.PC05) do qual constam determinados campos,
como: metodologia, calendarização, objectivos, caracterização do grupo, estratégias, …
Dessa constituição salientamos, o Plano de Actividades Sócio-pedagógico que consiste
“no conjunto de actividades, estruturadas e espontâneas, adequados a um determinado
conjunto de crianças e nas quais se encontram subjacentes intenções educativas
promotoras do desenvolvimento global de cada criança (físico, social, emocional,
linguístico e cognitivo).”(ISS, 2007:8)
e contempla as áreas de desenvolvimento motor, cognitivo, pessoal e social e do
pensamento criativo, através da expressão do movimento, da musica, da arte e das
actividades visuais espaciais, tendo em consideração a faixa etária e as competências
das crianças. De acordo com o Projecto Pedagógico, o educador estabelece o Plano de
Actividades de sala que consiste no plano de rotinas ou cuidados básicos,
actividades/brincadeira livres e espontâneas, actividades/brincadeiras estruturadas e
experiências de jogo com o objectivo de desenvolver competências individuais e de
grupo. O educador deve registar as aquisições e competências decorrentes da
implementação do Plano de Actividades de sala. São estes registos que permitem a
avaliação do PDI e da intervenção educativa, realçando-se que “para as crianças mais
pequenas deve ser dado um maior relevo à prestação de cuidados enquanto actividade
revista de intencionalidade educativa, em torno da qual a criança processa as suas
aprendizagens e estrutura o seu desenvolvimento.” (Idem, ibidem:7).
Dado que
“(...) características, custos e efeitos de contextos de qualidade é de importância crucial,
não apenas para os teóricos que tentam compreender as múltiplas interacções 26
determinantes no desenvolvimento, mas também para os pais e legisladores desejosos de
assegurarem às crianças as melhores condições de vida.” (Portugal, 1998:175),
este Modelo de Avaliação de Qualidade constitui “um conjunto de intenções e
orientações de uma organização relacionadas com a qualidade, como formalmente
expressas pela gestão de topo.” (Idem, ibidem:69)
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